Prêmio A Rede Educa 2016

Prêmio A Rede Educa 2016

Matéria publicada no anuário vencedores do prémio “A rede educa 2016” (p. 86).

Estudantes recebem formação em ativismo digital e traçam seus caminhos na construção da própria cidadania

“Hoje eu luto pelos meus direitos e pelos direitos dos outros. Aprendi a sempre ouvir diversas versões de uma história. Vi que não temos motivo para nos calarmos.” É assim que Josué Victor dos Santos Gomes, aluno do ensino médio na Escola Estadual Olegário Maciel, de Belo Horizonte (BH), resume o impacto do projeto Comunicadores da Hora em sua vida. Blogueiro e futuro jornalista, Josué é um dos cerca de 150 estudantes que participam do projeto, criado pela Internet sem Fronteiras Brasil.

A organização não governamental (ONG) faz parte da rede francesa Internet Sans Frontières, que milita na defesa da liberdade de expressão online e também na proteção da privacidade na rede. Com atuação no Brasil desde 2013, a organização lançou o projeto de jornalismo cidadão voltado a estudantes de fundamental II e médio de Belo Horizonte (MG) em 2014. O projeto recebeu financiamento da Sociedade Inteligência e Coração e da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais. A primeira instituição contemplada foi a Escola Estadual Coração Eucarístico, na periferia da capital. Entre 2015 e 2016, o projeto também aconteceu na Escola Municipal de Belo Horizonte e na Olegário Maciel. A iniciativa tem como proposta fortalecer a participação política dos estudantes, uma vez que a discussão sobre o assunto ainda é incipiente no espaço da escola, diz a cientista política Florence Poznanski, diretora da ONG no Brasil. Assim, a ideia é oferecer ferramentas para que os estudantes consigam elaborar suas próprias visões sobre temas relevantes para a sociedade, tornando-se cidadãos críticos e capazes de produzir conteúdos de qualidade. De acordo com Florence, a organização acredita que o futuro está nas plataformas colaborativas e por isso é tão importante que os jovens se apropriem das redes como espaço público de debates.

As turmas do projeto são formadas a partir das inscrições voluntárias. Não é preciso ter conhecimentos prévios, muito menos ser um aluno “queridinho” da escola. “Temos todos os perfis, até aqueles meninos considerados muito ativos, que não conseguem prestar atenção na aula. Esse não é necessariamente um mau aluno, só é preciso desenvolver”, declara uma das coordenadoras e educadora do projeto, Rayana Bartholo.

Ao longo das oficinas semanais, os participantes alternam formações teóricas e práticas relacionadas a ativismo digital, para produzir suas narrativas usando diferentes mídias, como texto, fotografia, recursos audiofônicos e audiovisuais. O material é postado na página oficial do grupo no Facebook, que agrega conteúdos de todas as edições do projeto. No entanto, a utilização da internet nas escolas costuma ser um complicador, uma vez que muitas escolas públicas não liberam o sinal Wi-Fi para os estudantes. Por isso, os jovens acabam usando suas próprias franquias de dados, o que limita a postagem de notícias fora dos horários de oficina. A definição das pautas acontece coletivamente, no início de cada encontro. Os garotos e garotas levantam as possibilidades de temas, que são decididos por consenso, de forma horizontal, assim como todos os outros assuntos que surgem nas oficinas. “Eles definem o que querem trabalhar e com qual abordagem. Já tivemos conteúdos sobre questões da atualidade como a escola sem partido, a negritude na escola, a causa indígena”, aponta Rayana.

O momento de colocar a mão na massa costuma ser o mais esperado pelos participantes, que têm diversas oportunidades de praticar o aprendizado em eventos externos. O aluno Josué lembra com entusiasmo de quando seu grupo produziu um programa de rádio em estúdio. Outra experiência que ele destaca foi a cobertura do 5º Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais, em maio de 2016, realizada em parceria com a rede de midialivristas Mídia Ninja. “Foi o ápice da realização! Ficamos o dia inteiro fazendo entrevistas e produzindo conteúdo com equipamentos profissionais. Foi uma ‘enxurrada’ de aprendizado. Aprendemos desde técnicas de como segurar a câmera até como editar”, conta o jovem de 17 anos. O vice-diretor da Olegário Maciel aprova a iniciativa. “A proposta de desenvolver o senso crítico, entender a realidade, criar e produzir tornou-os agentes ativos. Isso é fundamental no processo de formação”, diz Hélio Demétrio. Dois anos depois da primeira oficina, Florence faz um balanço positivo do Comunicadores da Hora: “Já estamos conseguindo aumentar a dimensão transmidiática, trazendo um conteúdo bem denso”. Agora, os organizadores do projeto querem mais. Está nos planos ampliar a ação para outros municípios mineiros. Outro sonho, segundo Florence, é criar grupos de jovens que chequem as falas (e promessas) dos políticos durante as campanhas, gerando um espaço de consulta para os eleitores fazerem suas escolhas. Assim, os Comunicadores da Hora seguirão contribuindo ainda mais com a missão que está em seu DNA, que é a de formar cidadãos mais conscientes sobre o mundo ao seu redor

 

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